O Uso e a Conservação do Solo Agrícola
Postado em 23/02/2022 às 14h53 | Por Assessoria de Comunicação CDASolo agrícola: patrimônio da humanidade
“O solo agrícola é patrimônio da humanidade e, por consequência, cabe aos responsáveis pelo seu uso a obrigatoriedade de conservá-lo”. Este é o artigo 1º da Lei Estadual nº 6.171/88. É patrimônio da humanidade porque é um recurso natural, um patrimônio natural, que disponibiliza recursos essenciais à vida por meio de serviços ecossistêmicos, como: fornecimento de alimentos, madeira para combustível e fibras, condução e reserva da água, abrigo de recursos genéticos. Por isto cabe não somente ao usuário do solo a responsabilidade de conservá-lo, mas a todos nós. A Legislação sobre o uso dos solos define as competências de toda a estrutura da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e as responsabilidades do usuário e das entidades públicas e privadas que em suas áreas de atuação tenham relação com os cuidados com o solo agrícola.
Com esta “incumbência” de conservar o solo agrícola, a população geral está autorizada a demandar e quais técnicas exigir de conservação do solo sejam utilizadas nas áreas de produção e, normalmente, esperam ver uma ação. Nem sempre a técnica conservacionista para uma determinada área é a que aparece na paisagem, que conseguimos fotografar. Mas a necessidade de mostrar um serviço, de apresentar algo fácil de ser visto, acaba influenciando técnicos e responsáveis diretos pela área, que optam por soluções nem sempre adequadas, chegando a desfigurar conceitos fundamentais sobre conservação do solo.
Para que o solo possa entregar os serviços ecossistêmicos que lhe competem para a manutenção da vida na terra, ele tem que estar vivo, funcionando, íntegro e conservado. A legislação estabelece que: “Entende-se por conservação do solo a manutenção e melhoramento de sua capacidade produtiva.” É fácil conservar o solo, mantê-lo funcionando, produzindo? Não é difícil, mas é um trabalho do cotidiano, por toda vida. A manutenção e melhoria da produção do solo não ocorrem como um “passe de mágica”, elas têm seu tempo para o ajuste físico, químico e biológico. Como exemplo usaremos a matéria orgânica, hoje símbolo da agricultura sustentável. Dentre todos os itens que influenciam a fertilidade do solo, a matéria orgânica é o mais importante para nossos solos tropicais, devido sua influência benéfica às propriedades químicas (capacidade de troca catiônica e nutrição das plantas), físicas (absorvendo água, agregando o solo e estabilizando agregados) e biológicas (interação com os organismos do solo). Entretanto, a manutenção de quantidades mínimas de matéria orgânica no solo é muito “custosa”, exige tempo e cuidados com o solo. O acréscimo de 1% de matéria orgânica no solo pode demorar décadas e sua perda pode ocorrer em apenas uma safra. Esses ganhos e perdas, embora muito importantes, não conseguimos fotografar.
A manutenção dos teores de matéria orgânica no solo se insere no conceito de conservação do solo relatado anteriormente. A importância da matéria orgânica é reconhecida por todos e, atualmente, os agricultores buscam aumentar seu teor nos solos para serem sustentáveis, preocupados com os índices e qualidade da matéria orgânica. Como os agricultores estão buscando aumentar esses índices, que ações estão implementando? Intercalando e alternando cultivos, plantando em faixas, mantendo o solo sempre coberto, seja com palha seja com plantas de cobertura, controlando o tráfego e a movimentação do solo.
O conceito de que a manutenção da matéria orgânica é importante para a conservação do solo é antigo, mas as maneiras de fazer acontecer podem ser novas, principalmente com o avanço tecnológico em georreferenciamento. Por isso nós técnicos temos que estar sempre no campo atentos ao que está acontecendo, buscando entender as transformações, considerando nossos conceitos, mas cuidando para que não se transformem em preconceitos, obscurecendo o entendimento das técnicas atuais. Os crentes a cada período vão a um templo ou um local sagrado para renovar a sua crença. Nós renovamos nossos conceitos indo ao campo, observando técnicas que estão dando certo para conservar e melhorar a capacidade produtiva dos solos.
Por José Osmar Bortoletti/CDA e Isabella Clerici de Maria/IAC/Apta