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05/02/2021

Instituto de Pesca participa de pesquisa internacional inédita que mapeou pesca em manguezais no mundo

Atualizado em 05/02/2021 às 00h00

Instituto de Pesca participa de pesquisa internacional inédita que mapeou pesca em manguezais no mundo

Através do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira, Instituto coleta dados que embasam gestão pesqueira e ações de preservação do ecossistema em São Paulo

O Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, participou de um dos mais abrangentes estudos já realizados sobre a ocorrência e intensidade das atividades pesqueiras em áreas de manguezais pelo mundo. A pesquisa buscou mapear em quais países o habitat é explorado para pesca e captura de organismos aquáticos, qual a quantidade de pescadores envolvidos na atividade e quais são os fatores que a influenciam em cada região. Fora do continente asiático, o Brasil se mostrou o país com maior número de pescadores artesanais atuando em área de mangue.

Como explica o pesquisador do IP Jocemar Tomasino Mendonça, responsável pela participação do Instituto no trabalho, a pesca em manguezais é uma atividade diversa, que tem elementos próprios em cada região onde ocorre. “Existem atividades que ocorrem dentro dos manguezais, tais como extrativismo de ostras e caranguejo-uçá, e existe a pesca que está relacionada com produtos que dependem deste habitat, como a pesca com redes de emalhe para diversas espécies de peixes; a pesca com gerival (aparelho artesanal de captura) para camarão-estuarino; e a pesca com arrasto para captura de iriko ou manjuba”, conta Mendonça. Uma característica essencial da pesca em manguezais, explana o pesquisador, é ser desenvolvida exclusivamente por pescadores artesanais.

No trabalho, Mendonça se juntou a especialistas no tema de todos os continentes num esforço para identificar quais são os principais fatores que levam as populações costeiras a se envolverem em atividades de pesca em manguezais. “Junto à Profa. Marília Cunha-Lignon, da UNESP de Registro, unimos nossos dados e conhecimento sobre os manguezais da nossa região, bem como a atividade pesqueira associada a estes ecossistemas, e trouxemos contribuições sobre os impactos das atividades sobre eles”, contextualiza o pesquisador do IP, que atua no Núcleo de Pesquisa do Litoral Sul, em Cananéia. Na realidade local, o especialista diz que os fatores que mais influenciam na intensidade da pesca de manguezal são a alta parcela não-urbana da população (pescadores artesanais) e a existência de outros recursos pesqueiros compartilhados, como a pesca de camarão-estuarino. “Na região existe a pesca do camarão com gerival dentro do estuário, mas o adulto é capturado na plataforma continental por embarcações artesanais e industriais, tanto paulistas, como de outras unidades da federação”, detalha.

Juntando os dados de SP e de outras partes do Brasil aos encontrados em diferentes cenários mundo afora, a pesquisa listou os 16 principais fatores de influência sobre a pesca em manguezais, agrupados em 6 categorias: fatores populacionais, culturais, de mercado, individuais, relativos à gestão das áreas e relacionados à capturabilidade das espécies. A partir das informações reunidas, foram aplicados métodos demográficos, estatísticos e geoespaciais para estimar o número total de pescadores artesanais que atuam (parcial ou exclusivamente) nos manguezais. O artigo, publicado na edição de dezembro de 2020 da revista Estuarine, Coastal and Shelf Science, chegou à conclusão de que existem no mundo cerca de 4,1 milhões de pescadores artesanais que dedicam ao menos parte de seu tempo de trabalho a atividades de pesca em manguezais. Dos mais de 100 países onde a atividade ocorre, o maior número de pescadores está localizado na Ásia, com Indonésia e Índia ocupando as primeiras posições. O Brasil aparece em quinto lugar, com cerca de 278 mil pescadores artesanais atuando em áreas de mangue.

Pesquisas do IP aliam economia à conservação dos manguezais

Uma das instituições pioneiras a fazer levantamentos sobre atividades pesqueiras no Brasil, o IP produz conhecimento valioso para a compreensão da dinâmica da pesca em São Paulo, o que é essencial tanto do ponto de vista da manutenção da atividade quanto para a proteção dos ecossistemas aquáticos. “O Instituto de Pesca, através do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira, coleta informações de forma ininterrupta sobre toda a atividade pesqueira marinha e estuarina do estado há mais de 60 anos”, enfatiza Mendonça, pontuando que, nos últimos 12 anos, estas coletas têm se intensificado. “De posse destas informações”, segue o pesquisador, “podemos avaliar todas as atividades pesqueiras nos diferentes ambientes, no que tange à dinâmica da pesca e dos pescadores”. Conforme explica, essas informações subsidiam a gestão pesqueira e trazem mais conhecimento para a tomada de decisões sobre a sustentabilidade da atividade e dos recursos pesqueiros no estado de São Paulo, contribuindo para o entendimento do cenário em todo o país e mesmo internacionalmente, como no trabalho recém-publicado.

Considerados verdadeiros berçários da vida marinha e de importância econômica vital para as populações caiçaras do litoral paulista, os manguezais são foco de grande parte das pesquisas desenvolvidas pelo IP em Cananéia. “São desenvolvidos estudos nos mais diferentes temas, servindo desde fornecimento para trabalhos de graduação e pós-graduação, até subsidiar pesquisas sobre espécies ou conjuntos de espécies, como a manjuba-de-iguape, robalo-peva, bagre-branco, camarão-sete-barbas, iriko, parati, ostra, caranguejo-uçá, tainha, entre outros”, enumera o pesquisador do Instituto.

Segundo Mendonça, há, também, análises de pescarias específicas, como a pesca com rede de emalhe, arrasto de camarão, gerival, extrativismo de moluscos etc, que têm impacto direto sobre a manutenção dos manguezais. “No litoral sul há o impacto de alguns destes aparelhos sobre os recursos pesqueiros, que, se não forem bem gerenciados, podem trazer redução na população dos organismos aquáticos”, menciona o pesquisador, que acredita que algumas espécies já estejam sentindo efeitos da sobrepesca na região. “Atualmente, precisa ser melhor gerenciada a pesca de parati e robalo-peva, que tem mostrado sinais de declínio, por exemplo”, conclui.

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