Informativo Técnico: Síndrome de Haff no Brasil (Doença da Urina Preta)
Informativo Técnico: Síndrome de Haff no Brasil (Doença da Urina Preta)
Doença de Haff, também conhecida como “doença da urina preta”, é uma síndrome ainda sem causa definida, caracterizada por uma condição clínica que desencadeia o quadro de rabdomiólise com início súbito de rigidez e dores musculares e urina escura.
Acredita-se que devido à ausência de febre e pelo rápido início dos sintomas após ingestão de pescados, a doença de Haff seja causada por uma toxina. Foram propostas diversas etiologias tóxicas para a doença, no entanto nenhuma foi confirmada. Acredita-se que uma toxina induza à rabdomiólise e cause a doença, embora nenhuma toxina ainda tenha sido identificada em amostras clínicas e dos pescados consumidos nos casos relatados.
Ao ingerir o pescado mesmo cozido, se estiver presente, a toxina provoca a destruição das fibras musculares esqueléticas e libera elementos de dentro dessas fibras no sangue, ocasionando danos no sistema muscular e em órgãos como os rins, podendo em casos graves ocasionar falência renal e cardíaca e levar a óbito.
Sinais e sintomas
Rabdomiólise é uma síndrome decorrente da lesão de células musculares esqueléticas, e liberação de substâncias intracelulares, na maioria das vezes relacionada ao consumo de álcool, atividade física intensa, compressão muscular, imobilização prolongada, depressão do estado de consciência, uso de medicamentos e drogas, doenças infecciosas, alterações eletrolíticas, consumo de peixes, entre outras.
A característica clínica da rabdomiólise envolve: mialgia, hipersensibilidade, fraqueza, rigidez e contratura muscular, podendo estar acompanhada de mal-estar, náusea, vômito, febre, palpitação, redução da urina e alteração da coloração da urina (castanho-avermelhada).
A clínica da doença acompanha diversas alterações nos exames laboratoriais dos indivíduos acometidos, e é recomendado que, grande aumento da enzima CPK associada à ingestão de pescados em cerca de 24 horas antes do início dos sintomas, seja investigada como Síndrome de Haff. Os casos podem estar relacionados à ingestão de peixes de água doce ou salgada, camarões e lagostins, crus ou submetidos a tratamento térmico (assados, cozidos ou fritos).
Casos no Brasil
O primeiro relato de um surto de doença de Haff no Brasil ocorreu em 2008, no estado do Amazonas, e foi associado à ingestão de pacu. Não houve óbitos. De 2016 a 2017, foram relatados mais de 100 casos no estado da Bahia e houve dois óbitos.
Chama a atenção o aumento agudo dos casos entre 2020 e 2021, quando já foram relatados mais de 200 casos nas regiões norte e nordeste do Brasil, em diversos estados, tendo sido até agora registrados dois óbitos.
Orientações Gerais
A doença não possui tratamento específico.
Observar a cor da urina (escura) como sinal de alerta e o desenvolvimento de rabdomiólise, pois neste caso, o paciente deve ser rapidamente hidratado durante 48 ou 72 horas.
Se deslocar até uma unidade de saúde no caso de aparecimento dos sintomas.
Identificar outros indivíduos que possam ter consumido do mesmo pescado para captação de possíveis novos casos da doença.
Atenção na hora de compra. Pescados, peixes, mariscos e crustáceos comercializados devem conter o selo dos órgãos de inspeção oficiais. Os produtos identificados pelo carimbo de inspeção na rotulagem possibilitam a rastreabilidade de sua origem, o que os torna mais seguros e colabora com as investigações a respeito das possíveis causas da doença.
Campinas, 17 de setembro de 2021.
Med. Vet. Ieda Dalla Pria Blanco
Programa Estadual de Sanidade dos Animais Aquáticos
Med. Vet. Bruno Bergamo Ruffolo
Diretor do Centro de inspeção de Produtos de origem Animal – CIPOA